Tudo sobre a região do Anhanduizinho
Campo Grande, sexta-feira, 01 de dezembro de 2023.
Devido ao equilíbrio, algo até então, nunca visto no campeonato brasileiro da série A, onde quatro times disputam ponto a ponto o título, com ligeira vantagem para o Palmeiras, com 66 pontos e que tem logo atrás, o Botafogo, Atlético Mineiro e o Flamengo, todos com 63 pontos, um jornalista integrantes de um grande site de São Paulo, recorreu ao mundo místico, para tentar saber quem será o campeão da atual temporada.
Esse fato me levou de volta à década do ano de 2.000, faz tempo né? Quanto ainda existia de fato o campeonato de futebol Sul-mato-grossense, com grandes times. Na época, ainda existia o Morenão, sempre recebendo grande público, entre outras ótimas lembranças que trago na minha memória.
Pois bem, o ano especificamente confesso que não recordo e culpo isso à idade, afinal 70 anos muito bem vividos, chega uma hora que o desgaste aparece, né?
Recordo apenas que a decisão do campeonato, foi entre o time do Centro Esportivo Nova Esperança (CENE), dirigido pelo competentíssimo técnico Mirandinha e Comercial, também com Amarildo de Carvalho, com a mesma qualidade do seu adversário.
Na época, como sempre digo, me deixaram “tentar escrever” no hoje extinto Jornal Diário do Pantanal, não porque eu trabalhava nele, mas toda a equipe era de excelente qualidade.
Como editor de esporte, eu era o responsável pelo fechamento de nada mais, nada menos quatro páginas e modéstia à parte, dava conta do recado e até brigava por mais espaço!
Claro que, com tantas páginas assim, tamanho “Stander”, eu dava prioridade para o futebol local e dentro do possível, tentava enfocar todos os times participantes do estadual. A telefonista ficava “louca” comigo, pois eu solicitava nada menos que, no mínimo 20 ligações por dia e ficava cobrando…
Decisão
Pois bem, chegou a semana do jogo decisivo e eu já tinha explorada praticamente tudo que era possível a respeito da partida. Confesso que começava a faltar “pauta”.
Diante dessa ausência de “pauta”, pois tinha abordado tudo mesmo, também mergulhei no misticismo e decidi procurar no primeiro momento, uma “Mãe de Santo” e fui a um terreiro de Candomblé, confesso que não me recordo em que bairro.
Fui conversei com a “entidade” e após o “trabalho” estava contente, pois tinha material para a edição do dia seguinte.
Dito e feito! No dia seguinte, cheguei à redação e fiz o material, sendo que em alguns parágrafos, usando até mesmo o “linguajar” da entidade.
Mas me esqueci que o dono do jornal era evangélico, da Igreja Adventista e o mesmo tão logo viu a matéria, claro que ele mandou tirar e no lugar da mesma colocou um enorme “calhau”. Pra quem não sabe, “calau” é o anúncio do próprio jornal.
E o dia da decisão estava chegando e confesso que não tinha mesmo mais assunto pra explorar, mas eis que de repente, me surge outra ideia, de procurar então alguém que jogasse cartas, búzios, algo assim.
Cheguei à redação, apanhei o classificado do próprio jornal Diário do Pantanal e comecei a procurar.
A pessoa que jogava carta, não aceitou e recorri então ao “babalorixá” que jogava Búzios e este prontamente aceitou fazer a entrevista, que tinha como pergunta principal: Quem será o campeão estadual?”
Afinal, o que é Búzios?
Como se sabe, o jogo de Búzios são pequenas conchas retiradas das águas profundas do mar. Como as conchas percorrem o mundo todo através das correntezas marítimas, trazem consigo os seus segredos e a revelação do que está oculto nos quatro elementos: água, terra, fogo e ar.
Existem muitos métodos de jogo, o mais comum consiste no arremesso de um conjunto de 8 ou 16 Búzios, sobre uma mesa, devidamente forrada com uma toalha branca.
Somente sacerdotisas e sacerdotes do candomblé têm a permissão para jogar Búzios, pois eles possuem conhecimentos, intuição transmitida pelos Orixás e Ancestrais, seriedade e sigilo sacerdotal, conseguidos através de certos rituais ao longo de sua formação nas Comunidades Tradicionais de Terreiro. Tudo isso lhes permite interpretar as caídas das conchas e fazer o que for recomendado para solucionar os problemas apontados no jogo dos búzios.
Encontro
Na tarde do dia seguinte, conforme o combinado, chamei o repórter fotográfico e o colega motorista e fomos à casa do “babalorixá”.
Fiz questão de chegar antes do horário combinado, pra me situar do local e abordar com o mesmo sobre o assunto, cujo nome da pessoa, também esqueci (memória fraca mesmo, né?) e na conversa, falei sobre o tema da pauta e tentar saber o mínimo quanto ao Búzio, para tentar escrever de forma correta.
Após a conversa inicial e nela as apresentações de praxe, o Babalorixá, pediu licença e entrou em um quarto anexo à casa, de onde saiu vestido a caráter: todo de branco, com turbante, colares e o mesmo carregava em uma das mãos, um “sininho” e na outra, uma peneira, grande, igual a uma bateia.
Devidamente vestido a caráter, o “babalorixá” sentou-se à mesa, forrada com toalha branca, o local exalava o cheiro forte dos incensos e ele se concentrou, fez uma oração e começou a sessão de perguntas.
À medida que eu formulava as perguntas, ele tocava o “sininho” e jogava as conchas de Búzio para fazer a interpretação.
Eu prontamente fiz a primeira pergunta: Quem será o campeão de futebol?
Ele tocou o “sininho”, jogou os Búzios…. Nada feito… recolheu os Búzios, tocou de novo o “sininho”, jogou outra vez, nada feito, apenas na terceira “tentativa”, ele conseguiu fazer a leitura.
Os Búzios se espalhavam pela mesa, dando assim as respostas às perguntas formuladas.
Comercial campeão!
Na leitura dos Búzios feita pelo Babalorixá, apontava que o time de vermelho, no caso o Comercial, não apenas seria o campeão estadual, bem como se tornaria uma força no futebol brasileiro.
Além disso, ele revelou ainda, conforme apontavam os Búzios, a transformação do Comercial em todos os sentidos!
Pois bem, após a consulta, voltei para a redação do Jornal Diário do Pantanal, feliz da vida, afinal tinha uma pauta totalmente diferente das até então tradicionais.
Na redação
Na redação, deixei uma página inteira para explorar exaustivamente a decisão que tinha agora a participação do Babalorixá, indicando conforme os Búzios, o título a ser conquistado pelo Comercial e a transformação positiva, do mesmo no cenário esportivo brasileiro.
Na página, “rasguei” o seguinte título, com corpo (tamanho das letras) mais ou menos 70: “Babalorixá aponta Comercial como campeão do Estadual”.
Claro que na matéria coloquei umas três fotos do babalorixá, o nome completo, endereço e tudo mais, afinal foi ele quem disse!
Mirandinha
Sábio, ao ver a matéria no jornal, o técnico Mirandinha, do CENE, solicitou que fossem tiradas umas 30 “xerox”, a famosa fotocópia da mesma e fez questão de pregar nos quartos de todos os integrantes do time, que já estava concentrado para a decisão.
Aliás, o título usado na página de esportes do jornal, serviu como tema de preleção ao técnico que, sabiamente, soube explorar o lado emocional dos jogadores.
Finalmente chegou o domingo, o dia muito esperado por todos que gostavam do futebol arte, bem jogado!
Morenão super lotado, com as três emissoras de rádios fazendo a transmissão, três jornais impressos diários, dois canais de televisão e muita festa!
Me recordo, que o Comercial chegou a estar vencendo por 3 x 2, sendo que o terceiro gol, foi de pênalti, sofrido pelo jogador Vinícius, um “cracaço” de bola.
O Pênalti foi cometido pelo zagueiro Rodrigão, que depois se redimiu do erro e fez o gol do empate e no fim o CENE, acabou vencendo pelo placar de 4 x 3, em uma das melhores decisões já registradas no “antigo” estádio Morenão.
Bem, hoje, não existe mais o Morenão, nem o CENE e o Comercial que ao contrário daquilo que foi dito pelo “babalorixá”, além de perder o título, não se projetou como um dos grandes no futebol brasileiro e agora briga pela sua sobrevivência.
Lembrando ainda que o CENE foi Hexacampeão Estadual, tendo conquistado os títulos nos anos de 2002, 2004, 2005, 2011, 2013 e 2014 e foi ainda duas vezes vice campeão, em 2003 2007.
Até nos dias atuai, quando o Paulo Telles, ex-diretor do CENE e eu, nos encontramos, ele ainda tira o “sarro” e pergunta: “e o babalorixá?”
Depois, contarei outro “causo”, já que na Capital de MS não tem os “Podcast”, eu conato as minhas “estórias”.
0 Comentários