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Campo Grande, domingo, 02 de fevereiro de 2025.
Fã do goleiro René Higuita, Silas se gabava e muito, pelo fato de ter os cabelos iguais ao goleiro colombiano (Foto: Google)
Já ouviu falar em matar dois coelhos com uma só cajadada? Pois é! Neste caso que relatarei agora, aconteceu isso, claro que não matei nenhum coelho, mas o caso que contarei teve como base dois fatos recentes.
O primeiro, a recém encerrada Copa São Paulo de Juniores de Futebol, que na verdade nem sei bem se ainda usam esse termo e o segundo, são os “reels”, postados nas redes sociais, onde tem um cara bem sacana, que aproveita para colocar shampoo, na cabeça do outro, enquanto o mesmo dorme.
Mas entremos no túnel do tempo, vamos à década de 80, época em que os torcedores tinham à disposição o Morenão que em cada jogo, recebia em torno de no mínimo 15 mil pessoas.
Também naquela época, o futebol da categoria de base era super efervescente, com os times participantes atuando nas preliminares dos jogos programados para o Morenão e com isso, a qualidade técnica dos jogadores, era das mais elevada.
Que eu me recordo, na categoria Juniores, disputavam os times do Comercial, Taveirópolis, Portuguesa, Gaúcho, eu acho que tinha também o Corinthinhas e claro, o Operário, entre outros que no momento me fogem da memória.
Claro que na década de 80, a moda que imperava entre os boleiros, mesmo os da base, (base que eu me refiro é a categoria, não vá pensar em outra coisa, viu?) imperava os cabelos compridos, quem tinha cabelos lisos ou os Black-Power e os jogadores com a qualidade técnica e com o visual diferente, faziam sucesso.
Operário
O time do Operário, era a menina dos “olhos” de todos os candidatos a ser jogador de futebol, tanto que em dias de “peneiradas”, compareciam mais de 200 meninos na antiga Poliesportiva, que hoje não existe mais.
Interessante que os candidatos à craque de futebol, iam de calção rasgado, nem todos tinham tênis, camiseta rasgada, enfim desse jeito, mas dentro de campo, mostravam qualidades até então escondidas.
Claro que em se tratando de uma “peneirada”, apenas não os bons, mas sim os ótimos, acima da média ficavam e passavam a integrar a escolinha do time até chegar à categoria Juniores, que teve como um dos técnicos, o saudoso “Cambone”, confesso que não sei o nome dele.
Quem estava na categoria de Juniores, já almejava vaga no time de profissionais, que por sua vez só tinha craques mesmo.
Os jogadores da categoria Juniores, já era tratados como “semiprofissionais”, tanto que dezenas deles, sem vaga no time principal, eram emprestados para outros times do Estado e até mesmo fora.
Como “semiprofissionais”, o elenco já se concentrava para os jogos disputados nas preliminares e com isso, os mesmos ficavam também na Casa do Atleta Carlos Castilho, localizada na Avenida Bandeirantes.
E como todos sabem, nos grupos, sempre tem os “sacanas”, aqueles que gostam de “aprontar” com os outros e para tanto, bastam “os outros” serem meio diferente, para servirem de cristo.
Silas
Um dos destaques no time de Juniores, era o jogador Silas, alto, quase 1,95, esguio e de muita qualidade técnica. Aliada à essa qualidade, tinha também a vaidade, pois o Silas, pelo fato de ter os cabelos lisos, os mesmos eram compridos e quando ele corria no gramado, o cabelo ficava esvoaçante.
Para manter a beleza nos cabelos, claro que o zagueiro Silas dispensava alguns preciosos minutos, para deixar o mesmo devidamente “alinhado” e fazia o uso de cremes, shampoos, entre outros produtos.
Claro que logo essa vaidade foi percebida por outros jogadores do elenco que decidiram pregar uma peça no Silas e de preferência, em dia de jogo.
Na preliminar de um jogo do Operário, o time da categoria de Juniores atuou contra a Sociedade Esportiva Industriária (SEI).
O Morenão já recebia bom público, pois como disse, os jogos dessa categoria, despertava a atenção de todos, devido à qualidade técnica dos jogadores.
Em uma parte da arquibancada descoberta, estava a torcida da Dona Delurma, torcedora fanática do Galo. Integrava a torcida, apenas moçoilas que usavam saias brancas plissadas e a camiseta do Operário e as mesmas faziam uma bonita festa quando o time entrava em campo ou marcava os gols, pois dançavam e jogavam papel picados.
Higuita
Na época, o goleiro René Higuita, da seleção colombiana de futebol, fazia o maior sucesso pela sua habilidade e também pelos seus esvoaçantes cabelos.
O jogador Silas, se vangloriava e “tirava uma” com os demais jogadores do elenco, afirmando que os cabelos deles eram iguais aos do goleiro Higuita, longos e esvoaçantes e pra provar isso e também provocar, ele corria pelo alojamento, no vestiário, enfim, onde ele estivesse corria para mostrar a sua vasta cabeleira.
Vaidoso, silas carregava consigo, uma “bolsa necessaire” e nela, todos os produtos para o embelezamento dos seus cabelos, como shampoos, os mais diversos tipos, condicionador, creme sem enxágue, protetor térmico, entre outros.
Surpresa
Diante da esnobação, uma verdadeira exibição dos lindos cabelos e sabedores que o mesmo tinha a “bolsa necessaire”, ainda na sede, onde o time se preparava para o jogo, não se sabe quem foi o autor da “sacanagem” feita com o Silas, e no momento de descuido dele, pegaram a “bolsa” e trocaram alguns produtos entre eles o creme que ele usava por shampoo.
Já no vestiário do Morenão, se preparando para entrar em campo ele usou o shampoo e “encharcou” os longos cabelos que usava para que, quando o mesmo corresse, ficasse esvoaçante, tal como do seu ídolo, o goleiro René Higuita.
Até ai tudo bem!
No entanto, naquela tarde, tal como os dias atuais, acabou chovendo intensamente, justamente durante a partida da categoria de Juniores. Como minutos antes, ele havia usado o produto pensando que fosse o creme e era shampoo, o mesmo foi espumando na cabeça e com a chuva, escorreu para os olhos e começou a arder.
Diante da ardência, pois a cabeça estava toda literalmente espumada, entrando nos olhos, Silas caiu, para ser atendido desse problema, ardência nos olhos.
Nesse meio tempo, chegava ao Morenão, a delegação do time principal, cujo massagista era Mendonça que assistia ao jogo da preliminar.
Vendo que o Silvas estava no chão, Mendonça não pensou duas vezes e entrou no gramado, claro para atender o jogador.
Quando chegou nele, sem perguntar o que havia acontecido, Mendonça jogou mais água aumentando ainda mais a espuma bem como a ardência.
Prostrado no gramado, Silas apenas gemia, pois o ardor era intenso e ele balbuciava apenas: “meus olhos, meus olhos”.
Preocupado, o massagista Mendonça pediu o atendimento do médico da delegação, Wilson Jacques (In memoriam), pois Silas permanecia gemendo de dor e com os olhos fechados.
José Wilson, como médico do clube, enfrentou a chuva para atender o atleta e junto ao mesmo, fez o tradicional sinal com a mão, para saber se o jogador estava consciente.
No gramado, Silvas falava apenas “meus olhos”, “meus olhos”.
Nesse meio tempo, pararam de jogar água e com isso, o shampoo parou de escorrer para os seus olhos e foi ai que finalmente o jogador conseguiu falar que sentia a ardência nos olhos
Após a limpeza no local e para solucionar o problema, tiveram que amarrar uma faixa branca na cabeça do Silas, fato esse que até hoje ele recorda e diz que a faixa deu mais charme e beleza aos seus longos cabelos e ele ficou ainda muito mais parecido com o goleiro Higuita.
Mas como ele optou por outra profissão, hoje não mais com o cabelo esvoaçante, ele exerce com muito profissionalismo, mantendo a a mesma técnica e habilidade, na função de diretor de imagens na TV Educativa.
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